A gente dá voltas, mas a vida mostra onde precisamos estar!
Tá bem...! Então, estamos em Kali Yuga, período em que só temos aproximadamente 25% de consciência de quem somos, de Sattva na mente... e por isso a tendência é que entremos cada vez mais em confusão, conflito, e caos... É assustador pensar sobre isso, né?
Principalmente porque tudo isso implica muito sofrimento, que é exatamente tudo o que a gente não gosta. Fugimos do sofrimento e de tudo aquilo que experimentamos como ‘ruim’, como o ‘diabo foge da cruz’. Mas a questão é: não é porque fugimos deles, que vão deixar de existir! Eles estão aqui, batendo em nossa porta, e cada vez mais forte, porque ignoramos eles por muito tempo...
Ao aprendermos a ignorar aquilo que a gente não gosta, tendemos a dar mais atenção e a tentar fazer somente aquilo que nos é confortável, que nos dá prazer, e levamos nossa vida ‘pela metade’. Por que digo pela metade? Porque ao ignorarmos que tudo neste mundo tem dois lados e só assim há o inteiro, que o ‘bom’ ou ‘ruim’ são relativos, e só optarmos pelo que nos é de direito, também ignoramos nossas obrigações.
Vivemos em nossa casa com nossa família, e sabemos que temos deveres a cumprir: limpar o quarto, lavar a louça, jogar o lixo fora, lavar a roupa etc, mas só queremos a parte de sentar no sofá e ver TV por exemplo, ou ainda a parte de comer, às vezes sem considerar que para comermos alguém precisou cozinhar, e observe: pode ser que a pessoa que tenha cozinhado nem estivesse afim de cozinhar... mas o fez assim mesmo: é o que deve ser feito!
Pois bem, ao ignorarmos nossas obrigações, e desconsiderarmos o ‘outro lado’, garantimos uma visão parcial das coisas, da vida, sendo assim, em geral, nosso poder de escolha e tomada de decisão fica também bastante prejudicado, parcial. E aí, já conhecemos a história: ambiente degradado, climas totalmente fora do equilíbrio natural, extinção massiva de espécies de plantas e animais, acúmulo de riquezas nas mãos de poucos e pobreza para a maioria, pessoas normalizando aquilo que não deveria ser normal... acho que posso parar por aqui né?
Em algum ponto da nossa existência como ser humano, começamos a entender equivocadamente, que aquilo que tenho é o que me define, ou aquilo que faço é o que me define, ou ainda, aquilo que sinto é o que me define, quando na real, nada disso define coisa nenhuma... Mas nesse caminho, começamos a projetar nas coisas que fazemos ou temos a nossa identidade, é como se não fôssemos alguém sem essas coisas... Ou seja, procuramos ter mais e fazer mais porque isso nos dá a segurança de que somos alguém, e de que somos alguém consistente, sólido, alguém que dura, para sempre se possível...
Durante um bom tempo, essa sensação foi um tanto sólida e consistente, pois as carreiras eram mais sólidas, fazer carreira em empresa, por exemplo, era algo bom; os bens de consumo eram duráveis; famílias viviam às vezes na mesma residência a vida toda... Só que, alguns detalhes começaram a ser modificados. Utilizando um termo criado por Zygmunt Bauman, as coisas ficaram mais líquidas, ou seja, trocamos a solidez (relativa) pela fluidez...
Com a globalização, essa fluidez foi ganhando força, pessoas viajando e trabalhando de qualquer local, reuniões e trabalhos cada vez mais na rede e menos físicos, pessoas que necessitam criar e recriar-se a todo instante, pois tudo muda tão rápido que o sentimento de não podermos ficar para trás só cresce. E não só nesse âmbito as coisas tornaram-se fluidas, mas também nas relações, com coisas e, pasmem, com pessoas. Como tudo muda, e torna-se mais moderno cada vez mais rápido, trocamos os objetos que temos por outros mais novos, mais bonitos e mais tecnológicos como quem bebe água; as casas são trocadas por outras com a decoração mais ‘clean’ ou mais ‘retrô’, de acordo com a moda do momento; e por fim, passamos a trocar e substituir as pessoas porque não satisfazem nossas vontades e desejos imediatistas, ou porque não nos agradam e não tem as mesmas opiniões, ou porque não são como as idealizamos, ou porque simplesmente nossa relação já não é mais real e sim virtual..(muito mais fácil deletar alguém da sua vida pela rede não é mesmo?)... pois é, sabe o que toda essa fluidez e esse jeito ‘cool’ e descolado de ser provocou? Tornou o ser humano cada vez mais inseguro.
Inseguro porque tem medo de não dar conta, porque não sabe como será o amanhã, porque não sabe se atenderá às expectativas do patrão, do companheiro, dos amigos, dos filhos, etc... Mas há que se lembrar de um ponto, todas essas questões são questões humanas e por isso sempre existiram, afinal, quem sabe do dia de amanhã, quem sabe se estará vivo? Não é mesmo?
O que ampliou esse medo todo, foi a crescente desconexão de si. É no mínimo irônico ver que em um momento de tanta conexão, aconteça simultaneamente uma desconexão brutal. Não sabermos quem somos dá medo, sempre deu, mas a gente se distanciou ainda mais, e ficou extremamente assustador...

Mas sabe o que é mais incrível? Lembra quando falei que o ‘outro lado’ tá aí sempre batendo a nossa porta por ter sido ignorado? Ele continua batendo, mais forte, porque é só através dele, que a gente consegue parar para reavaliar o que estamos fazendo, só através dele que conseguimos olhar para dentro em vez de olhar para fora o tempo todo. E embora tenhamos perdido imenso tempo tentando fugir do caos, do sofrimento, do pensamento ou sentimento ruim, traçamos um longo caminho para voltarmos ao início, e descobrir que só através deles e somente indo pra dentro, encontraremos a resposta que tanto procuramos!
O ser que nos habita é imensamente mais inteligente do que imagina nossa mente! Mesmo (sem ter consciência) tentando fugir chegamos exatamente no ponto em poderíamos estar logo de cara, se pelo menos parássemos um pouco para olhar para dentro.
Não há bom sem o ruim...
Nem silêncio sem caos...
É do caos que surge o silêncio,
Necessário para a (re)criação...
Aproveita!!!
Beijinhos de Luz!
Tati